STF, Escolinha do Professor Raimundo ou um boteco?

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O foco da sessão não era, até então, o julgamento dos golpistas, mas o ego mais que exageradamente inflado dos ministros

O que se viu na Primeira Turma do STF na terça-feira, 6, foi um vexame institucional histórico – e eu diria inédito -, digno de esquete humorístico de quinta série. Ministros da mais alta corte do país, em plena sessão de julgamento dos envolvidos na tentativa de golpe de Estado, ou seja, deliberando sobre os próximos 15 ou 20 anos da vida de sete pessoas, se engalfinharam em picuinhas, ironias e lamentações pessoais como se estivessem num programa de auditório ou tomando uma no sábado à noite.

O ministro Luiz Fux abriu os trabalhos deixando claro que não queria briga com Alexandre de Moraes: “Não estou aqui para contrapor o ministro Alexandre”, quase se desculpando por algo que não fez. Puro receio de bater de frente com o colega midiático autoritário. A resposta de Xandão veio a galope: “Não foi o ministro Fux que quebrou meu braço”, e completou, misturando rancor com deboche: “Vão ter que fazer muito mais para me colocar contra Vossa Excelência e vice-versa.

Não satisfeito com o autoelogio travestido de camaradagem, Moraes logo partiu para cima da imprensa: “Alguns querem transformar o Supremo na revista Caras”, referindo-se pejorativamente à revista que cuidava de fofocas, por causa de reportagens que mostram os bastidores, as intrigas e a estética brega da Corte. Ora, se não querem manchetes sensacionalistas e matérias de gosto duvidoso, que apaguem os holofotes e parem de se comportar como subcelebridades de toga.

Raimundo Nonato no STF?

O auge do constrangimento, porém, veio quando o próprio Xandão choramingou: “Fico magoado porque quando é o Fux, ninguém pede suspeição. Quando sou eu, são 868 pedidos. Suspeito é quem pede minha suspeição”. Imediatamente, um advogado que assistia ao bate-papo de botequim e aguardava sua vez de se pronunciar, visivelmente constrangido e receoso, murmurou: “Quero deixar consignado que este advogado jamais pediu a suspeição de vossa excelência.”

Enquanto a “broderagem” togada seguia, sete investigados por atentar contra a democracia estavam no banco dos réus com os “fiofós” nas mãos – merecidamente, aliás! O foco da sessão não era, até então, o julgamento dos golpistas, mas o ego mais que exageradamente inflado dos ministros. Em vez de debaterem teses e fatos, os excelentíssimos preferiram lavar a roupa íntima suja, ao vivo e em cores para todo o Brasil, disputando o troféu de “A Vítima do Ano”. The Oscar goes to

O Supremo deveria ser o bastião da sobriedade e guardião incondicional da Justiça. Mas, há muito, se tornou um balcão politiqueiro e palco de vaidades. A toga, que simboliza responsabilidade e contenção, virou figurino de carnaval. E o Brasil, à beira de um novo ciclo de radicalização, assiste ao deprimente espetáculo, certo de que: “De onde menos se espera, é de onde não sai nada mesmo”. Encontra-se em curso um remake da Escolinha do Professor Raimundo. Eu prefiro a série original.

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