Aliados de Lula tentam empurrar o caso para o governo Jair Bolsonaro, mas os indícios revelados até agora pela CGU apontam para outra direção
A Operação Sem Desconto, que investiga descontos não autorizados em pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), abriu um novo flanco de disputa em Brasília: quem é o responsável pela crise que afetou os aposentados brasileiros?
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, deixou claro, desde o primeiro momento, que o governo Lula pretendia tratar a questão como uma vitória, ao dizer que “o papel da Polícia Federal é um papel de polícia de Estado, absolutamente republicana e [que] investiga o que for necessário, doa a quem doer, inclusive cortando na própria carne se for preciso“.
Apesar da relutância do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (à esquerda na foto), o governo demitiu Alessandro Stefanutto (à direita na foto) do comando do INSS, para não demonstrar leniência com suspeitas de corrupção, e os governistas têm tentado empurrar a responsabilidade pelos desvios de dinheiro dos aposentados para o governo Jair Bolsonaro.
“Não caia em fake news”
“NÃO CAIA EM FAKE NEWS. O esquema de corrupção no INSS começa em 2019 no governo de Jair Bolsonaro. Em 2023, já no governo do presidente Lula, a CGU pediu pra PF investigar em sigilo. Hoje foi deflagrada a operação “Sem Desconto”, para desbaratar quem tava roubando aposentados e pensionistas. COMPARTILHE A VERDADE!”, publicou o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), em seu perfil no X, junto com trecho de discurso em que falou sobre o assunto.
Para envolver Bolsonaro na história, os governistas se apoiam na forma como a Operação Sem Destino foi noticiada inicialmente. “Até o momento, as entidades cobraram de aposentados e pensionistas o valor estimado de R$ 6,3 bilhões, no período entre 2019 e 2024”, dizia a primeira nota da Controladoria Geral da União (CGU) sobre o assunto.
Um site da EBC chegou a destacar isso em título, afirmando o seguinte: “CGU e PF combatem esquema iniciado em 2019 que fazia descontos indevidos em benefícios do INSS”.
Esse título foi usado em vídeo do deputado federal André Janones (Avante-MG) para acusar “a quadrilha montada por Jair Bolsonaro dentro do INSS”.
Ao detalhar o caso, contudo, Vinícius Marques de Carvalho, ministro da CGU, disse que os descontos vinham sendo feitos desde 2016. E mais: a quantidade de dinheiro descontada sem autorização dos pensionistas aumentou consideravelmente a partir de 2023, quando começou o governo Lula.