Em um cenário assim, absolutamente ninguém sai vencedor, e todos correm riscos jamais vistos desde o fim da Guerra Fria
Dentre as retaliações comerciais impostas pela China aos Estados Unidos, a partir da guerra tarifária insana aberta por Donald Trump contra o mundo, mas em especial contra o país asiático, está a proibição de exportação – sem autorização do governo chinês – de minerais raros, matéria-prima fundamental na manufatura de inúmeros produtos, sobretudo motores de automóveis, aviões (inclusive militares) e foguetes (inclusive mísseis).
Aliás, no campo da aeronáutica, segmento imprescindível para a economia e a segurança americanas, a China também determinou a suspensão de importação de peças e aviões da Boeing, fábrica com sede nos EUA. Esse tirambaço impacta um dos mais importantes fornecedores de equipamento militar dos Estados Unidos e abre as portas para contra-ataques igualmente potentes do governo Donald Trump
Uma das especulações em curso trata de um imposto de até um milhão de dólares a ser aplicado a cada navio chinês que atracar em um porto americano. Ou seja, a escalada da guerra comercial iniciada por Trump caminha para um cenário de conflito cada vez mais perigoso entre as duas maiores potências econômicas e militares do planeta. A cada dia, Xi Jinping dá mostras que está longe de ceder aos caprichos do lunático alaranjado.
À beira do precipício
Voltando à proibição chinesa de exportação de minerais raros, é possível que Trump, por isso, retome com furor o tema Groenlândia. Meses atrás, o presidente americano especulou sobre a anexação da ilha. À época, o assunto foi tratado com algum desdém, pois anunciado em meio ao devaneio de anexação do Canadá e ameaças sobre o Panamá, lembrando que ao menos na cabeça de Trump, o Golfo do México já é americano.
A Groenlândia é riquíssima em tais minerais, e Trump poderá usar a retaliação chinesa para justificar ainda mais o que chama de “segurança nacional”. Uma vez concretizada a anexação, dificilmente a China não faria o mesmo com Taiwan. Reparem que os portões do inferno já estão destrancados, à espera apenas da Besta do Apocalipse que irá abri-los de vez. E não. Aqui não segue qualquer especulação catastrofista, apenas fatos.
Quando ouço e leio comentários no sentido de que “o Brasil poderá se beneficiar da guerra comercial”, ou “Trump sabe o que está fazendo”, ou ainda “ele (Trump) sobe a régua para depois negociar o razoável”, confesso que fico chocado pela incapacidade de leitura do formulador. Em um cenário assim, absolutamente ninguém sai vencedor, e todos correm riscos jamais vistos desde o fim da Guerra Fria.